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PERDER BEM por Filipe Nunes Vicente

02.02.22

No outro dia um tablóide chamava  à capa : os novos detectives electrónicos das infidelidades - você também pode ser um.  Os manuais de auto-ajuda expandiram-se mas mantêm o estalão da raça: podemos ser tudo o que não sabemos que se podia ser. Nada de novo, eles também fornecem a garagista auto-confiança e a divertida felicidade.

Podemos é  ir com Barthes - o fait divers é uma arte das massas - ou suspeitar de coisa mais concreta. Se formos com Barthes esta nova profissão é afinal velha O fait divers tem como função preservar a ambiguidade do racional e do irracional, do insondável e do inteligível. A infidelidade  electrónica é ela própria ambígua - por ex. o reencontro  exaustivo com um  antigo colega no facebook . O faça você mesmo não é para todos: nunca chegamos  a usar o espectacular  beberbequim  a laser e lá repousa ele no seu estojo brilhante.

Já se suspeitarmos de uma sugestão concreta, a coisa muda de figura. Começa pelo enunciado: a mesma tecnologia que  provoca a infidelidade pode descobri-la se você for eficiente. Isto leva-nos a uma conclusão surpreendente: dedique o tempo da sua relação  a provar que ela não funciona.

Ainda assim o osso da coisa é a especialização - investigar, provar, acusar. Ou seja, você pode ser cornudo mas um cornudo informado.

 

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