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PERDER BEM por Filipe Nunes Vicente

06.02.22

A França sob o jugo nazi não ficou dividida em duas, a zona ocupada e a dita livre ( uma anedota). Foi em seis.  Vichy, a italiana, a Alsácia-Lorena em que dois departamentos foram anexados a Gau Baden e  ao Sarre Palatinado,  o Nord e o Pas de Calais sob comando em Bruxelas, a zona interdita que ia desde a foz do Soma à fronteira suíça e o resto da  zona ocupada. A estas seis ainda podemos acrescentar, a partir de Abril de 1941, outra zona interdita de Dunquerque a Hendaia ( uma faixa de 20km de largura) e a Argélia .

Imaginem definir nesses tempos o que  era um francês ( mesmo com a depuração de judeus, maçons, comunistas etc). As fronteiras naturais e artificiais, as demarcações provisórias, a política, a guerra, a resistência, a colaboração alegre e vergonhosa de Brasilach e amigos, a colaboração forçada. E por aí  fora.

O discurso de Cicero é em defesa de Arquias que pediu  a cidadania  romana apesar de ter nascido na Lucânia. Ainda mais interessante é a chegada de Édipo às portas de Colono. Velho, cego  e portador  da maldição. Nada é assim tão simples, dizem. Pois não. Há um século a Europa ainda estava  imigrada em Àfrica e na Ásia. Impôs regras, leis  e costumes, regulou arquivos culturais, capturou  antiguidades, dominou economias  e produções. A Índia não era um território virgem  e bárbaro, mas os ingleses entenderam que   assim a podiam imaginar; a China muito menos, mas não se livrou de duas guerras do ópio que  a obrigaram a aceitar navios  e comércio estrangeiro. A Síria e a Líbia foram capturadas pelos maometanos sem apelo nem agravo ou, se quiserem ir pela lengalenga com que Claudio Torres explica  a presença árabe na Península, convidaram-nos a ir para (A)lá.

Não se trata  da cantilena do fardo do homem branco, da expiação da culpa. Trata-se de compreender os ciclos históricos. A mistura  de capitalismo com estado social é atraente para populações que vivem com um nível de vida pré-capitalista. Rejeitar essa pretensão em nome da identidade cultural europeia é risível e, sobretudo, inútil. As identidades grupais não se legislam, não se amarram a cordões sanitários. Ainda por cima as comunidades imigrantes  ( migrantes na língua de pau) já fazem parte das culturas europeias.

 Tratar os imigrantes como cidadãos, e isso inclui os deveres, é  a única opção.

 

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