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PERDER BEM por Filipe Nunes Vicente

28.03.22

Isto vai ser o cabo do trabalhos. Uns vão dizer que Petrarca falava bem porque vivia com fidalgos indolentes e de barriga cheia. Outros atribuirão a este vosso escriba o estatuto de teórico. A primeira temos de a levar com um grão de sal, a segunda tomara que fosse verdade.

Petrarca considerava que a dor, física ou emocional,  só se tornava impossível de suportar  devido à fraqueza da alma. A virtude :  suportar  a dor nunca se  alcança por sorte mas pela  persistência. Ao contrário dos epicuristas. Petrarca pretende apenas combater a dor, diminuí-la,   não torná-la agradável. Socorre-se muitas vezes de exemplos de homens ( e deuses...) que o conseguiram para estabelecer como universal e ao alcance  de qualquer um conseguir vencer algumas batalhas. É aqui  que  entramos na arena.
Quando tenho alguém em sofrimento a quem conto histórias de doentes que padecem de males  piores ouço  o habitual "Com  o  mal dos outros posso eu bem". Se der exemplos  de pessoas que suportaram  a dor o que ouço é  o  que a Dor diz à Razão no manual de Petrarca:  " Não somos todos iguais".  Verdade. Não somos todos iguais, não existe socialismo da resistência ao contrário do que pensava o toscano.

Ao longo destes trinta anos poucas pistas consegui reunir, mas existe um matagal que me fornece rasto fresco: a velhice. Ela traz muita dor de todas as cores e feitios e os que melhor vejo resistir são os que aceitam a decadência. Parece estranho? Nem tanto.  Gostam de viver e por isso compreendem que há um preço a pagar. Lá entendem que o  balanço final enquanto estiverem vivos lhes é favorável. É uma arte de domínio dificílimo, só ao alcance dos que sabem que a vida é uma longa história de sofrimento.

 

 

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