13.03.22
O António Damásio disse uma vez que o velho princípio whatever works baby é um bom princípio quando se ajudam pessoas. A fé, a crença religiosa, pode ser um factor?
Ter fé num tratamento é bom, sim, mas não me parece o principal. Ao fim de todos estes anos e vendo muita gente que por regra nunca entraria no gabinete de um psicoterapeuta ( lavradores, gaspiadeiras, pastores, muitos velhos), a dimensão religiosa mais importante parece-me outra.
O desespero, um dos alvos desse enorme terapeuta ( até no sentido literal) que foi Cristo : Somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos ( 2 Corintíos 4:8-9). Não sou crente - ou melhor acredito em todas as religiões - mas esta impertinência dos verdadeiros crentes é admirável e estelífera.
No Educação para a Morte ( Bertrand 2008) conto a história de uma senhora de quase oitenta anos que perdeu a filha única, quarentona e solteira. Era uma mulher religiosa, falámos muito sobre a esperança e fé durante a quimioterapia. Na primera sessão depois da morte da filha perguntei-lhe em que pé ficaram as coisas com Deus. Respondeu-me: No mesmo de sempre. Sempre acreditei e durante estes meses terríveis nunca me deixou sozinha.
O pedantismo e os complexos mal resolvidos podem miar, mas é aqui que, da minha experiência ( este assunto tem de ser abordado assim), as pessoas com fé vão buscar um um ramo de cheiros ao deserto.