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PERDER BEM por Filipe Nunes Vicente

09.05.22

O que faz a distância às relações? Não faço ideia, mas a proximidade pode matar.

À emigração antiga, desde a muito antiga à de Paris de França, sucedeu outra: a tecnológica.  Conheço casais que agora comunicam mais na rede do que ao vivo. Mudou muito? Nem por isso, as coisas de que falamos são as mesmas.

No gabinete não digo isto às pessoas, mas não acredito em relações  à distância. A longa separação é para os lutos e para as zangas, o que ilustra bem a sua função. Sim, às vezes vem-me à cabeça que a distância filtra a relação: se já estava em declínio, mais se afunda. Ainda assim mantenho que ela não faz bem à tosse.

Temos então uma nova espécie. As pessoas estão fisicamente próximas ou distantes, não importa, mas a relação ( ou parte dela) emigrou para a rede tecnológica. Se não mudou o que se comunica ( os miúdos, as contas, as doenças da sogra), mudou o que não se comunica. A distância cria uma visão menos enevoada do papel do outro mas sobretudo da própria  relação. O que não se comunica é o que entendemos não ter dignidade para ser posto na mala diplomática. As relações  correm o risco de assentar na troca de informação ou nas flores secas ( adeus beijnho, adeus adoro-te, adeus até amanhã).

O pathos da relação - a tensão, o toque, o olhar - é espremido na bimby electrónica. Sai comestível mas  sem graça.

 

 

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