15.09.22
Amores? Não quero compromissos, não quero ficar presa nem ter desilusões.
Ora aí está um bom roteiro. Compreendes que nada defenderás nem ninguém lutará por ti. Não conseguirás distinguir a vitória da derrota. Até aqui tudo catita, a ataraxia faz parte do jogo.
Onde o refrigério não funciona é na parte das desilusões. A minha amiga imagina que elas nascem das traições e dos abandonos a que os outros nos votam. Um amor que se escapa pelas frinchas dos anos, um par de lampanas mal contadas sobre mensagens suspeitas no telemóvel, enfim o desfile habitual. Não digo que essas coisas não nos ponham com monco de peru, mas não são as piores. Nem de longe nem de perto.
Por um lado os tais compromissos, as promessas, o arranjar da casinha para criar gaiatos ou canitos são o que são: vento. Ora vem de feição ou vai de mistral. Só se fores tola é que confias no vento.
Por outro lado, e mais importante, sobre a desilusão ninguém faz o trabalho melhor do que tu. É a tua tola que não dá para mais, a tua barriga que cresce todos os dias, a asneira que fizeste ao volante e que pagas durante anos, a cobardia de não conseguirres mandar o chefe levar com o frangalho na anilha etc.
Não duvides: se queres alguém que te desiluda vê-te ao espelho todos os dias.