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PERDER BEM por Filipe Nunes Vicente

19.04.22

Uma das piores consequências da lalangue  psi foi a crença religiosa no determinismo das experiências infantis. Pais ausentes, mães  frias, proibições, divórcios etc. Muitos adultos que acompanho estão convencidos de que ficaram marcados e isso determina as suas escolhas actuais.

 É preciso fazer falhar a educação que recebemos ( dizia o João dos Santos). Isto nada tem de revolucionário, é apenas inovação. Significa que temos de olhar de novo para o passado e escolher o que queremos  não repetir e o que desejamos manter. Como em todas descolonizações tal trabalho  não se faz sem alguma violência. Por exemplo  reeditar a nossa relação com a casa original. Destrinçar  o laço de poder com que ela costuma embrulhar o presente emocional.

Desenvolvendo um bocadinho. Ainda que a associemos  à adolescência ou ao início da vida adulta, a força  da herança da colonização parental encontramo-la também em  pais e até  em...avós. Perdi a conta de maduros que atribuem à herança colonial familiar muitos dos seus problemas, incapacidades, revoltas interiores dilacerantes. Em muitos casos com boas razões para isso, mas não deixa de ser notável a forma como passam um atestado de menoridade às suas vidas adultas.

Sempre  que sou chamado a ajudar tento  bater neste ponto: o que somos em adultos é da nossa responsabilidade. Claro que existem casos pontuais de terrível e imorredoira herança mas são poucos. Na maior parte das vezes apenas arranjamos uma muleta mental que arquiva as  nossas fraquezas no museu colonial.

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