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PERDER BEM por Filipe Nunes Vicente

14.02.22

 

A velhice e a clínica  ( e lá voltaremos) têm-me ensinado umas coisitas. Demasiado tarde para as aproveitar como sempre acontece comigo, mas ainda a tempo de as passar. Uma delas é que não existe nada mais duro e difícil do que a generosidade, essa prima radiosa da bondade.

Gasset brinca  ( El Espectador, 1925) com o sentido original do termo ( testemunha, tradução  literal do martyros grego) quando uma ninfeta o interpela. Ela quer saber como Gasset vive sem apanhar sol:

- Es qué yo no vivo, señora.

- Pues qué hace usted?

- Asisto a la vida de los demás.

É por vezes a sensação que o psicoterapeuta  tem: a de assistir  à vida dos outros. O objectivo, infantil talvez, reconheço, é extrair os factores comuns - o  que existe em todas as relações, em todos os cenários. A tarefa lá  vai, aos tortolos, hesitando entre o desperdício e a solidão. Tenho notado um ponto comum nos que menos desperdiçam e menos se sentem sós: a generosidade.

Estarei a ficar velho e piegas? Velho de certeza, piegas não: continuo  o mesmo bode egoísta. A descentralização do ego faz de facto muito bem. Como é que conseguem? Talvez porque no fim de contas os generosos recebam uma recompensa ambrosiana: dependem menos dos outros. Desperdiçam menos e  suportam melhor a solidão.

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