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PERDER BEM por Filipe Nunes Vicente

11.03.22

 

Kairologia. Usa-se no futebol, na descrição dos debates políticos, em todo o lado em que acontece o que devia acontecer. Dionísio (de Helicarnasso) achava que não. Ninguém conseguiu  definir a arte da oportunidade. Traduzindo em passe vite a ideia de Dionísio:  dependendo a arte do kairos  de uma situação determinada, julgada pelos olhos de quem a vê e ocorrendo num instante preciso que por sua vez  é o produto de momentos anteriores e  coevos, é impossível definir a arte. A altura certa para dizer a verdade, o momento  benigno para abandonarmos, o segundo preciso em que desistimos. Arrisco contrariar Dionísio ( espero que no instante certo): domina a arte da oportunidade quem duvida do futuro.

O que nos leva de novo ao tempo irreparável. Lembro-me de uma mulher. Trintona, engraçada, amarrada a um marido desleixado,  um café de aldeia em comum, dois filhos.  Enamorou-se de um tipo que lavava os dentes e tinha facebook. Discutimos a situação várias vezes, a coisa arrastou-se  durante  um ano. Um dia entra-me pelo gabinete com cara de quem foi ao pote das bolachas. O marido morrera de repente. O problema: agora não conseguia juntar-se com o outro. Remorso, culpa, fosse o que fosse.

Lembro-me que estiquei as pernas, olhei para  a janela do gabinete e resumi:  Como se diz aqui em Coimbra: agora  é tarde, Inês é morta.

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