11.03.22
Kairologia. Usa-se no futebol, na descrição dos debates políticos, em todo o lado em que acontece o que devia acontecer. Dionísio (de Helicarnasso) achava que não. Ninguém conseguiu definir a arte da oportunidade. Traduzindo em passe vite a ideia de Dionísio: dependendo a arte do kairos de uma situação determinada, julgada pelos olhos de quem a vê e ocorrendo num instante preciso que por sua vez é o produto de momentos anteriores e coevos, é impossível definir a arte. A altura certa para dizer a verdade, o momento benigno para abandonarmos, o segundo preciso em que desistimos. Arrisco contrariar Dionísio ( espero que no instante certo): domina a arte da oportunidade quem duvida do futuro.
O que nos leva de novo ao tempo irreparável. Lembro-me de uma mulher. Trintona, engraçada, amarrada a um marido desleixado, um café de aldeia em comum, dois filhos. Enamorou-se de um tipo que lavava os dentes e tinha facebook. Discutimos a situação várias vezes, a coisa arrastou-se durante um ano. Um dia entra-me pelo gabinete com cara de quem foi ao pote das bolachas. O marido morrera de repente. O problema: agora não conseguia juntar-se com o outro. Remorso, culpa, fosse o que fosse.
Lembro-me que estiquei as pernas, olhei para a janela do gabinete e resumi: Como se diz aqui em Coimbra: agora é tarde, Inês é morta.