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PERDER BEM por Filipe Nunes Vicente

05.09.22

Ouço isto muitas vezes. Fica-me nos ouvidos como o som mole da primeira  trinca  nas fraudes que vendem por aí a passar por  bolos de bacalhau ( quase sempre uma argamassa que nem é de bacalhau, é de paloco)

Sinto-me  desinteressada das coisas boas. Já não me dão prazer, acho-as enfadonhas. Culpo-me disto, é verdade, mas não posso evitar.

Ele há coisas mais fáceis de resolver. Julgamos que são as grandes tragédias as mais difíceis de arrumar, mas não é assim. Estas  resolvem-se por si: ou cais ou segue sem frente. Já a fadiga de Cápua implica uma actualização permanente.

Uma linha de escavação, conselho do meu amigo Epicteto ( Encheiridion, LIV): os prazeres mais repetidos são os que  raramente nos proporcionam a maior satisfação. Ora bem: teremos aqui um palão a contar lampanas? Não creio. Hoje como na velha Roma ( o gajo era grego mas viveu lá) queremos prazer. Nada contra, claro. A Beatriz Costa ( sim, a da franjinha) disse uma vez que o seu maior prazer era um copo de água fresca quando tinha sede. A menina da rádio resumiu numa frase a escola do Arco acerca disto: o mais estelífero prazer é o que satisfaz a necessidade. Se persegues os prazeres como um podengo maníaco, a tua necessidade acabará por ser...não ter prazer nenhum.

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