15.02.22
Já ouvi centenas de justificações para divórcios. Todas excelentes e elaboradas. São como os fuzilamentos: ninguém se lembra de dizer que foi por causa de um mau almoço. Recordo uma transmitida pela mulher, jovem, com uma bebé de um ano: Ele está sempre a ver programas de que eu não gosto e não me deixa ter o comando. É uma boa causa.
Há uma, no entanto, que nunca ouvi: o sexo era mau. E é notável porque o que distingue um casal de um par de amigos ou de irmãos que vivem juntos é o sexo.
Quando falo de sexo falo de tudo: provocação, aggiornamento, evolução, privacidade. Sem dar conta as pessoas vão perdendo a zona vermelha: dos cheiros, risos, pele, excitação. Isto faz com que o casal constitua a comissão política apenas sobre a intendência: contas do gás, dentes das crianças, charros dos adolescentes, microondas avariado etc. Serão assuntos importantes, acredito, mas enredados numa lógica cooperativa semelhante à da vida profissional ou do condomínio.
O quarto ( ou equivalente) é o espaço conspirativo que ignora a lógica cooperativa. O que lá se faz não paga contas nem garante boas notas ao filho cábula. O que lá se faz é anterior a tudo o que se faz depois. O abandono da subversão sexual é tão brutal que os casais nem se lembram dele na altura de justificar a secessão.