06.06.22
O António Damásio disse uma vez que o velho princípio whatever works, baby é um bom princípio quando se ajuda pessoas. A fé, a crença religiosa, pode ser um factor quando se ajuda pessoas? Claro.
Ter fé num tratamento ( químico ou de psicoterapia) é bom mas não me parece que encerre o tema. Ao fim de todos estes anos e vendo muita gente que por regra nunca entraria no gabinete de um psicoterapeuta ( lavradores, gaspiadeiras, pastores, muitos velhos), a dimensão religiosa mais importante parece-me outra.
O desespero, um dos alvos do Cristo enorme terapeuta que depois se desencaminhou para a política : Somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos ( 2 Corintos4:8-9).
No Educação para a morte ( Bertrand 2007) conto a história de uma senhora de quase oitenta anos que perdeu a filha única, quarentona e solteira. Era uma mulher religiosa, falámos muito sobre a esperança e fé durante a quimioterapia da filha. Na primera sessão depois da morte perguntei-lhe em que pé ficaram as coisas com Deus. Respondeu-me: No mesmo de sempre. Sempre acreditei e durante estes meses terríveis nunca me deixou sozinha.
O pedantismo e os complexos mal resolvidos podem miar, mas é aqui que as pessoas com fé vão buscar um um ramo de cheiros ao deserto. E isto vale tanto como o último remédio do mercado.