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PERDER BEM por Filipe Nunes Vicente

03.03.22

Em muitas  línguas, portanto, em muitas culturas, a frieza tem má fama. Dizer-se de alguém que é frio ou que actuou ou falou com frieza é passar um atestado de desumanidade.  Pode não ser assim. É melhor  o teu escravo ser mau do que tu seres destemperado é uma das regras  da casa da ataraxia. Substitua-se o escravo da muito peculiar ( e curta) democracia grega por empregado, mulher, vizinho, irmão, o que se quiser.

A frieza não tem  de remeter para  a indiferença. Pode ser  a capacidade  de autocontenção, de pensar duas vezes antes de falar ou actuar. Pode sobretudo  ser  uma frequência baixa ainda que imperceptível aos ouvidos ansiosos. Assim sendo temos aqui  uma forma de intimidade: disciplinando as paixões, reservando-as para quem as merece.

Os moralistas antigos não exportavam o seu exemplo pessoal, traçavam linhas mais largas. Caio Rufo, um estóico pouco conhecido ( só ficaram fragmentos), entendia que os deuses  puseram umas coisas sob nosso controlo e outras não.  Sob nosso controlo, dizia Rufo ( fragmento 38),  os deuses puseram  a capacidade de usarmos a razão para sermos justos, bons e respeitadores. Fora  do nosso controlo os deuses deixaram tudo o resto. Tudo o resto que não controlamos deixa-nos  a possibilidade de confiar no universo e ceder-lhe o que ele pedir: os nossos filhos, o nosso país, o nosso corpo. Isto não é para todos, mas sempre é melhor do que o moralismo revolucionário y  beato.

 

 

 

 

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