08.02.22
Saudade. É de bom tom elogiar a suposta originalidade portuguesa ( origem no latino para solidão) que não existe. Por acaso também me faz sentido o anglo-saxónico miss you ou home sick. Faltar-nos uma coisa ou estarmos doentes pela falta dela é bem apropriado. Seja como for a emoção em causa é reconhecida por todos.
Ao microscópio a saudade parece irracional. O’Neill explicava melhor:
Chorar encostada a uma saudade
bem maior do que eu,
Que não fosse esta tristeza
Absurda de cada dia.
O curioso é que é das emoções que vejo mais vezes racionalizada. Há crimes em nome do ciúme, do amor e do ódio, raramente por causa da saudade. Habituamo-nos à ausência do outro, temporária ou definitiva , também (mas não só) sob a forma do luto. A racionalidade é assinalada através do reconhecimento da impotência, o que, como sabemos, é sintoma de saúde mental evitando identificações com Napoleão.
A tristeza absurda de cada dia é estribada numa emoção suportável e também é muito racional e saudável. Assumindo o absurdo da tristeza ela torna-se digerível como um dente que caiu ou uma tendinite que não passa.