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PERDER BEM por Filipe Nunes Vicente

08.02.22

Saudade. É de bom tom elogiar a suposta originalidade portuguesa ( origem no latino para solidão) que não existe. Por acaso também me faz sentido o anglo-saxónico miss you ou home sick. Faltar-nos uma coisa ou estarmos doentes pela falta dela é bem apropriado. Seja como for a emoção em causa é  reconhecida por todos.

Ao microscópio a saudade parece  irracional. O’Neill explicava melhor:

 Chorar encostada a uma saudade

 bem maior do que eu,

Que não fosse esta tristeza

Absurda de cada dia

O curioso é que é das emoções que vejo mais vezes racionalizada. Há crimes  em nome do ciúme, do amor  e do ódio, raramente  por causa da saudade.  Habituamo-nos à ausência do outro, temporária ou definitiva ,  também (mas não só) sob  a forma do luto.  A racionalidade  é assinalada através do reconhecimento da impotência, o que, como sabemos, é sintoma de saúde mental evitando identificações com Napoleão.

A tristeza absurda  de cada dia é estribada numa  emoção suportável e também  é muito racional e saudável. Assumindo o absurdo da tristeza ela torna-se digerível como um dente que caiu ou uma tendinite que não passa.

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