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PERDER BEM por Filipe Nunes Vicente

23.04.22

 

Uma discussão interessante  é feita por Cícero no  Tratado do Destino ( IX,17). Convida Diodoro, Epicuro e Crísipo: Tudo o que acontece  teve de acontecer. As proposiçoes sobre  o futuro  são tão verdadeiras como as sobre o   passado  ainda que nestas a impossibilidade de as modificar  sejam aparentes. Já sobre o futuro essa aparência não é tão evidente.
Isto é um dos eixos do estoicismo. Tudo o que aconteceu teve de acontecer representa o aceitar da vida no que ela configura  de  luto pela nossa omnipotência.  A nota sobre a diferença entre o passado e o futuro é deliciosa. Aparentemente podemos modificar a representação do nosso  passado ( a culpa foi de X, não mereci Y, Z afinal foi bom). Já quanto ao futuro a tendência para o reeducar é outro osso.
 
Muita  da angústia que por aí grassa advém desta continuidade da falsificação. Como reorganizamos o passado de acordo com as conveniências do presente, imaginamos que o futuro pode ser igualmente arquitectado. Uma  leve suspeita porém nos incomoda.  Se  renegamos o passado para melhor o poder suportar tememos  que as  proposições  que enunciamos sobre  o futuro ( ambições, desejos, grandes sucessos) também  não sejam uma maravilha de solidez.
Não é de admirar a angústia permanente, o reexaminar sucessivo e gaguejante do caminho que nos aguarda.  E isto tudo enquanto desperdiçamos vida.

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