23.04.22
Uma discussão interessante é feita por Cícero no Tratado do Destino ( IX,17). Convida Diodoro, Epicuro e Crísipo: Tudo o que acontece teve de acontecer. As proposiçoes sobre o futuro são tão verdadeiras como as sobre o passado ainda que nestas a impossibilidade de as modificar sejam aparentes. Já sobre o futuro essa aparência não é tão evidente.
Isto é um dos eixos do estoicismo. Tudo o que aconteceu teve de acontecer representa o aceitar da vida no que ela configura de luto pela nossa omnipotência. A nota sobre a diferença entre o passado e o futuro é deliciosa. Aparentemente podemos modificar a representação do nosso passado ( a culpa foi de X, não mereci Y, Z afinal foi bom). Já quanto ao futuro a tendência para o reeducar é outro osso.
Muita da angústia que por aí grassa advém desta continuidade da falsificação. Como reorganizamos o passado de acordo com as conveniências do presente, imaginamos que o futuro pode ser igualmente arquitectado. Uma leve suspeita porém nos incomoda. Se renegamos o passado para melhor o poder suportar tememos que as proposições que enunciamos sobre o futuro ( ambições, desejos, grandes sucessos) também não sejam uma maravilha de solidez.
Não é de admirar a angústia permanente, o reexaminar sucessivo e gaguejante do caminho que nos aguarda. E isto tudo enquanto desperdiçamos vida.