28.03.22
Isto vai ser o cabo do trabalhos. Uns vão dizer que Petrarca falava bem porque vivia com fidalgos indolentes e de barriga cheia. Outros atribuirão a este vosso escriba o estatuto de teórico. A primeira temos de a levar com um grão de sal, a segunda tomara que fosse verdade.
Petrarca considerava que a dor, física ou emocional, só se tornava impossível de suportar devido à fraqueza da alma. A virtude : suportar a dor nunca se alcança por sorte mas pela persistência. Ao contrário dos epicuristas. Petrarca pretende apenas combater a dor, diminuí-la, não torná-la agradável. Socorre-se muitas vezes de exemplos de homens ( e deuses...) que o conseguiram para estabelecer como universal e ao alcance de qualquer um conseguir vencer algumas batalhas. É aqui que entramos na arena.
Quando tenho alguém em sofrimento a quem conto histórias de doentes que padecem de males piores ouço o habitual "Com o mal dos outros posso eu bem". Se der exemplos de pessoas que suportaram a dor o que ouço é o que a Dor diz à Razão no manual de Petrarca: " Não somos todos iguais". Verdade. Não somos todos iguais, não existe socialismo da resistência ao contrário do que pensava o toscano.
Ao longo destes trinta anos poucas pistas consegui reunir, mas existe um matagal que me fornece rasto fresco: a velhice. Ela traz muita dor de todas as cores e feitios e os que melhor vejo resistir são os que aceitam a decadência. Parece estranho? Nem tanto. Gostam de viver e por isso compreendem que há um preço a pagar. Lá entendem que o balanço final enquanto estiverem vivos lhes é favorável. É uma arte de domínio dificílimo, só ao alcance dos que sabem que a vida é uma longa história de sofrimento.