24.03.22
O desgaste que as crises ( do subprime à Covid19 e agora com a guerra na Ucrânia) provocam é outra montanha para rolar a pedra infinitamente. Homero imortalizou a tarefa e todos conhecemos o mito. A resposta habitual é a intensificação dos vazadouros: irritabilidade, bebida, tabaco, drogas,isolamento etc. Como é natural a resposta só vai aumentar o peso da pedra que temos de rolar montanha acima.
Sílio Itálico, tido a certa altura como sucessor de Virgílio, mereceu de Plínio o Novo o seguinte comentário ( sobre o Punica): maiore cura quam ingenio. É isto - mais transpiração do que inspiração - (numa tradução libertina) que acontece quando ficamos cegos ao esforço inútil que dispendemos em resposta a uma necessidade não satisfeita.
O que há a fazer é primeiro uma confrontação honesta com a nossa cegueira. Somos nós que nos estamos a tramar ainda que este seja um mundo de carrascos. Depois aplicar o esforço nas coisas que nos podem salvar. Quais? Todas as que nos tornem melhores: sermos generosos, solidários ou pelo menos uns filhos da mãe impecáveis. É que ao contrário de Sísifo não fomos castigados pelos deuses mas pelos homens, por isso nada existe que não possa ser feito ou suportado de outra forma.