13.10.22
É no meio de muita gente que me sinto mais sozinha.
O célebre síndroma Maria Guinot ( quem tem mais de quarenta anos sofre da recordação dessa cantilena xaroposa) , muito comum no facebook.
Invejo-te a um ponto que não imaginas. Passo a semana a ver e ouvir pessoas. Sexo, filhos, fobias, opiniões sobre o lince ibérico, pesadelos, disputas de terrenos, filosofias de alguidar, sogras, divórcios. Não escapa nada. Tenho de me interessar. Imagina um mecânico. As pessoas não me contam essas coisas para passar o tempo: a embraiagem ou os amortecedores têm de ser consertados. Daqui resulta que, ao fim de tantos anos, na vida civil já me é insuportável a conversa de aperitivo mesmo na mais divertida reunião social.
Afinal talvez não sejamos assim tão diferentes. Ambos alucinamos. Tu sentes-te sozinha, invisível, não te compreendem, coitadinha. Eu visto o fato do homem social e finjo interessar-me pela mortal converseta do gajo do lado.