07.03.22
Os dois ( o tempo e o jogo) na Ucrânia lembram outros. Da tristeza, do desperdício e da destruição. Desta vez ainda mais cruéis porque parece que recuámos com Putin no tempo e no jogo mortal. E porque há gente a lutar com uma coragem notável.
O Great Game se visto no mapa é facilmente perceptível: os britânicos vindos do sudeste, os russos vindos do noroeste. Encontraram-se no Afeganistão ao longo de grande parte do século XIX e jogaram o jogo do conde Nesselrode e do capitão Connoly. Não sei o suficiente sobre as intenções russas desse tempo, mas o jogo britânico parecia claro: prolongar a esfera de influência a partir da Índia, defender-se da cobiça russa. Em 1836, estava Mohammad Khan ocupado a tentar reunificar o antigo projecto do grande Afeganistão de Durrani, quando os ingleses entram pelo país adentro. Esta terra de ópio é também terra de muitas coincidências:
A ocupação britânica do Afeganistão é mitigada pela batalha de Maiwand ( dizia-se nos meios militares ingleses que não se pode combater na Ásia Central a partir de planos traçados à sombra de uma veranda indiana), mas a Inglaterra continuará a deter um droit de regard sobre o país. Muitas tribos são separadas com a delimitação da fronteira Durand ( 1893) e o Pamir é retirado aos afegãos; a confusão permanecerá por muito tempo
Ontem como hoje os contadini não se interessam pela guerra. Por nenhuma guerra. Carlo Levi no seu "Cristo si è fermato a Eboli" descreve a resignação desgraçada do popolo italiano, o dos campos, pela campanha fascista da Abíssinia promovida por Mussolini: "Pazienza! Morire sopra un'amba abissina non è poi molto peggio che morire di malaria nel proprio campo, sulla la riva del Sauro.
É a velha história: para valer a pena ir morrer lá, é preciso ter algo cá pelo qual valha a pena lutar.