13.04.22
Benjamin (Infância Berlinense) e o telefone: poucos conhecem a devastação que o seu aparecimento causou no seio das famílias. Conta como o pai se entregava à manivela até se esquecer da vida dominado pelo transe. Benjamin era mais prático: rendia-me à primeira proposta que me chegava através do telefone.
Não gosto do telefone e do seu neto, o telemóvel. Por razões tristes e antigas, mas também por uma outra bem prática: não existe contacto visual. Preciso dele para tudo. Sim, há as videochamadas mas tenho sempre a sensação de estar a falar no vídeo-porteiro. Tanto vídeo, tantas palavras desconchavadas.
No outro dia uma rapariga estava a contar-me como tinha acabado a relação amorosa. Era uma primeira entrevista apenas destinada a fazer a história clínica. Loura plastificada, lânguida, deprimida, responsabilizando todos por tudo. A coitada da caneta já escrevia sozinha. Até que ela me conta as palavras finais da ruptura de uma forma que me acordou: ela estava numa cidade, ele noutra. Por telefone? Acabaram por telefone? Responde ela: Sim, por sms.
É fantástico como a tecnologia facilita a vida até a dos que não a vivem.