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PERDER BEM por Filipe Nunes Vicente

13.04.22

Benjamin (Infância Berlinense) e  o telefone:  poucos conhecem a devastação que o seu aparecimento causou no seio das famílias. Conta  como o pai se entregava à manivela até se esquecer da vida dominado pelo transe. Benjamin era mais prático: rendia-me  à primeira proposta que me chegava através do telefone.

Não gosto do telefone e do seu neto, o telemóvel. Por razões tristes e antigas, mas também por uma outra bem prática: não existe contacto visual. Preciso dele para tudo. Sim, há as videochamadas mas tenho sempre a sensação de estar a falar no vídeo-porteiro. Tanto vídeo, tantas palavras desconchavadas.

No outro dia  uma rapariga estava a contar-me  como tinha acabado a relação amorosa. Era uma primeira entrevista apenas destinada  a fazer  a história clínica. Loura plastificada, lânguida, deprimida, responsabilizando todos por tudo. A  coitada da caneta já escrevia sozinha.  Até que  ela me conta as palavras  finais da ruptura de uma  forma que me acordou: ela estava numa cidade, ele noutra. Por telefone? Acabaram por telefone? Responde ela: Sim, por sms.

É fantástico como a  tecnologia facilita  a vida até  a dos  que não a vivem.

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