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PERDER BEM por Filipe Nunes Vicente

08.05.22

Crisipo, no Therapeutikos,  Crantor e Séneca  estabeleceram a psicoterapia ( as consolações) num eixo estóico-epicurista apelando à razão e a normas filosóficas que transcendem a existência individual. Petrarca veio depois e veio muito bem.  Não sou um erudito nem sequer um iniciado. Recorro às  formulações estóicas e epicuristas como quem vai ao mercado. Cada um dá o que pode e amanhã começa outro ciclo.

Scio a praeceptis incipere omnis qui monere aliquem uolunt, in exemplis desinere. Diz ele que às vezes se pode inverter a ordem - começar pelos exemplos e acabar nas recomendações - porque  é preciso adaptarmo-nos  a cada caso particular.  Marcia  perde o filho Séneca  escolhe os exemplos de Octávia e de Lívia: também elas sobreviventes ao luto. O objectivo terapêutico do estóico é opor a Márcia exemplos  de resistência para que ela não fique como o capitão do navio   que, no meio da tempestade,  desiste de luta contra as vagas e deixa que as velas se rasguem à ventania.

Um caso que acompanhei foi o de uma senhora que perdeu um dos dois filhos. Morreu adulto num acidente. Já nada lhe interessava , só queria  ir ter com ele. É uma mulher simples ( sem instrução como dizia o Soares sobre o Eusébio) que compreendeu isto que eu lhe disse: Você não é só uma mãe de um morto. Também é mãe de um vivo, é mulher de um homem, irmã, tia, prima, amiga. A sua dor é de todos. Aceitou e recuperou, que é como quem diz, vive. Amputada, para se salvar  da gangrena, mas vive.

 

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