27.02.22
O sentido de tempo, ou da duração, é adquirido quando somos bebés. Constrói-se através do intervalo entre o desejo/necessidade e a satisfação. É por isso que a certa altura o bebé no quarto ouvindo a mãe na sala a dizer que já vai suporta a fralda molhada ou a fome. Isto é consensual , desde os primeiros investigadores modernos ( Fraisse) da coisa até alguns pediatras e psicanalistas ( Tustin, Pollock etc). Dito de outro modo, ganhamos o sentido de tempo ( e do real) aprendendo a controlar a frustração.
Para o curioso destes matos isto coloca um problema: o que usamos quando sentimos que alguma coisa ( por ex, uma relação antiga ) está a acabar? Não desejamos que acabe mas sentimos que está a acabar. Ficamos então frustrados porque a coisa não acaba de vez? Se sim que mecanismo usamos? Talvez isto explique a paralisia emocional em algumas pessoas. Reagimos ao fim da relação ( tristeza, melancolia), mas também aguardamos , mais ou menos tranquilamente, que a coisa termine de vez porque é esse o nosso desejo.
Por outro lado, é potável a obsessão com o apagar das marcas do tempo no corpo. É uma indústria que se cruza com outras: a do turismo senior, da máscara de lama e banho de algas etc. Nada a opor, cada um põe o dedo no dique como bem entende.
Outra possibilidade é ir com o tempo. Aceitar que uma relação veterana já deu o que tinha a dar, fazer as pazes com um amigo desavindo, mudar o óleo do motor do carro na altura certa. Quando nos despedimos do amor num aeroporto damos um beijo e contemos as lágrimas, não fazemos sexo.