17.02.22
A expressão a minha vida seria divertida se fosse verdadeira. Não é.
É notável como uma coisa tão frágil e maravilhosa pode ser desprezada. Acorda-se vivo, os os nossos estão bem, o café está feito: se digo isto na clínica olham-me com um sorriso de compreensão pelo tolinho que os devia estar a tratar e afinal não acende as luzes nos andares todos.
Do optimismo não sei nada salvo antes de cada jogo do Glorioso, mas do desperdício, ao fim destes anos todos, sei alguma coisa. As pessoas acham vulgares tantas coisas boas que não lhes passa pela cabeça que possam ser traídas na próxima esquina. O contra-argumento conheço-o de gingeira: então devíamos andar tolinhos de contentes porque os miúdos estão bem, o carro não foi parar debaixo de um camião, o ordenado foi depositado etc?
Não se trata de andar contente ou triste. Ele há malta que anda contente em jornadas vingativas e outra que anda triste porque que pesa cem gramas a mais. Trata-se de compreender que o que temos de bom em cada instante é um prazer fragilíssimo. Sobretudo aceitar que nada nos pertence: o aluguer é renovado todo os dias.